segunda-feira, 15 de julho de 2013

Quem ganha com o aumento dos gastos do governo?


Foi com um ar de espanto que o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que a despesa do governo passou a marca de R$ 1 trilhão. O jornalão questiona os gastos de natureza social mas se cala a respeito da montanha de juros que o governo para à especulação financeira, e que constitui o verdadeiro peso morto que atrapalha o desenvolvimento do país.

Por José Carlos Ruy


Dívida publica em 15 de julho
O gráfico publicado por O Estado deS. Paulo
























A principal notícia econômica de O Estado de S. Paulo desta segunda-feira (15) diz, em tom de alarme e escândalo: “Despesa do governo supera inflação e passa de R$ 1 trilhão pela primeira vez”.



O jornalão paulista teria razão se, na análise da notícia, destacasse a real motivo de alarme e escândalo nela revelado: o enorme peso dos juros sobre as despesas da União, que constituem a verdadeira trava para os investimentos destinados ao desenvolvimento do país. Juros que alimentam os grandes especuladores financeiros e sugam os recursos do país em benefício da pequeniníssima parcela da população que concentra, em suas mãos, a riqueza do país,


O jornalão paulistano revela que as despesas do governo federal tiveram aumento real de 6,6% no primeiro semestre, em relação ao mesmo período de 2012, levando os desembolsos a ultrapassarem aquele valor mítico de R$ 1,01 trilhão. E gerando a dificuldades que o governo terá para realizar o almejado, pela especulação financeira, corte entre R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões de seus gastos. E constata: “o que se vê na prática, é que os investimentos estão estagnados, enquanto as demais despesas sobem”.

Quais despesas subiram? Foram os gastos sociais do governo, como o Minha Casa Minha Vida (que os conservadores consideram como custeio e não como investimento, fazendo aumentar as despesas do governo). Outros gastos cujo crescimento causa o alarme conservador são aqueles ligados ao aumento do salário mínimo, que influencia pagamentos de aposentadorias, pensões e benefícios assistenciais a idosos e deficientes físicos de baixa renda. Além disso avaliam o aumento da folha de pagamento do governo, que praticamente não cresceu neste ano (foi de meros 0,3%), revelando - diz o jornalão da famiglia Mesquita - “que há pouco espaço para cortes adicionais na rubrica. Ali, o aperto já foi feito”.

Avalia também os investimentos feitos pelo governo, no primeiro semestre, para concluir que, dos R$ 90,2 bilhões previstos, R$ 19 bilhões haviam sido empenhados até junho, sendo que apenas R$ 3,7 bilhões foram efetivamente pagos com recursos do orçamento de 2013, e outros R$ 16,8 bilhões, que foram liberados nesse período, eram verbas de orçamentos de anos anteriores - os chamados restos a pagar.

Isto é - o jornalão paulistano se alarma com a perspectiva do governo encontrar dificuldades para realizar os cortes orçamentários anunciados (que podem chegar a R$ 15 bilhões, havendo inclusive analistas conservadores que propõe R$ 25 bilhões!). Dificuldades que derivam do propósito permanentemente reafirmado pela presidenta Dilma Rousseff de não realizar cortes nos gastos sociais do governo. A União, sugere o jornalão, fica então sem alternativa...

Trata-se de uma conclusão que interessa apenas aos especuladores que ganham rios de dinheiro com a dívida pública. Alternativa existe, e ela é revelada pelo próprio gráfico que ilustra a matéria de OESP (ver acima), que mostra os gastos do governo entre 2009 e 2013.

Aqueles R$ 1,01 trilhões de reais gastos pelo governo em 2013 incluem R$ 389,1 bilhões em amortizações e refinanciamento da dívida mais R$ 66,7 bilhões em juros e encargos da dívida. Isto é, a especulação financeira abocanhou R$ 455,8 daqueles gastos, ficando com 45% do total. As despesas que permitem ao governo governar e investir no crescimento do país ficaram muito abaixo, somando R$ 20,5 bilhões no item investimentos, mais R$ 29,7 bilhões em inversões financeiras feitas pelo governo, mais R$ 108 bilhões no item pessoal e encargos, mais R$ 396,9 em despesas de custeio (que, aliás são da mesma dimensão da amortização refinanciamento da dívida: R$ 389,1 bilhões).

Os R$ 20,5 bilhões anotados como investimentos representam apenas 4,5% do total de R$ 455,8 bilhões gastos com a especulação financeira! É irrisório e indica outro caminho, real e produtivo, que permitiria cortes para dobrar os investimentos feitos: a montanha dos juros gerados pela dívida pública! Se o governo decidir dobrar os investimentos, chegando a R$ 41 bilhões, mesmo assim estará agastando apenas 9% daquilo que é abocanhado pela especulação!

Outra forma de medir o verdadeiro obstáculo que o governo enfrenta para fomentar o desenvolvimento, que é representado pela voracidade da especulação financeira, foi indicado pelo “dividometro” publicado pelo portal Auditoria Cidadã da Dívida. Ele mostra que até 1º de junho (nos cinco primeiros meses do ano, portanto) a dívida consumiu R$ 406 bilhões de reais (ao ritmo alucinante de 2,7 bilhões por dia!), representando até aquele dia 51% do gasto federal.

O país não aguenta pagar tanto juro para especuladores. Precisa trazer esses recursos para investimentos em seu desenvolvimento e não esteriliza-los aumentando as contas bancárias de uma elite voraz e improdutiva!


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