sábado, 1 de outubro de 2011

Marco Albertim: A literatura em Pernambuco


Uma rede com peixe em abundância diversa. Ainda que não se trate de pescaria, o novo livro de Nagib Jorge Neto contém os nomes de todos os escritores de terras pernambucanas. Começa com Bento Teixeira, autor da “Prosopopéia”, que veio a lume – estima-se – “entre 1584 e 1594”, e termina com o ainda vivíssimo xilogravurista e cordelista J. Borges. Nagib escora-se numa bibliografia que reúne 67 obras. 



Albertim Antonio José da Silva
Albertim Antonio José da Silva
Com esforço honesto, diz que a literatura de cordel, após a quartelada de 64, tinha “a visão do sistema, dos meios de comunicação, e os poetas passaram a defender a Revolução, as cassações, prisões, ao contrário do tempo em que defendiam Jango e as reformas (...)” Não omite, ademais, a circunstância de que “cresceu o desencanto, e os poetas populares, assim como muitos artistas e intelectuais, voltaram a antigo leito de louvar seus heróis tradicionais.” Irrelevante, no caso, é o caixa-alta numa revolução que não houve.

“A literatura em Pernambuco” não se posiciona quanto ao mérito da “Prosopopéia”, mas menciona Nelson Werneck Sodré e Érico Veríssimo para sustentar que a obra “era um mau poema, imitação barata de Camões, e cuja intenção principal era louvar o Governador de Pernambuco.” Palavras de Veríssimo. Foi escrita sob o calor da Inquisição, o autor acusado de heresia, preso e enviado a Portugal; e condenado. 

O Santo Ofício, no Brasil, diz Nagib valendo-se de Alberto Dines, em “Vínculos do fogo”, condenou “400 pessoas a penas variadas – 21 foram queimadas e garroteadas, entre elas o autor teatral Antônio José da Silva(...)”. Pena que o autor do antológico “As três princesas perderam o encanto na boca da noite” tenha se referido a Gregório de Matos, apenas no final do terceiro capítulo da primeira parte, posto que, no dizer de Érico Veríssimo foi “a figura mais importante da literatura brasileira do século XVII (...) uma espécie de símbolo.” Em que pese o estilo barroco, “mas com críticas aos defeitos da sociedade em que vivia.” A empreitada de Nagib prendeu-se a Pernambuco, mas o contraponto seria o amparo de uma tese.

Não é historiador, Nagib, mas refere-se com legitimidade a episódios da história, cabíveis também na lavra de ficcionistas. O caso do bispo Sardinha, “acusado de corrupção, de arrancar confissão de pecados na Bahia, em Pernambuco, convertendo as punições em penas pecuniárias (...)” No naufrágio, bispo, clérigos “e aliados perderam o ouro e os cruzados que levavam (...)”. Salvos por caetés, tornaram-se hóspedes dos índios; mas descobertos como amigos de Portugal, viraram “rega bofe (sic) episcopal (...)”.

Catando miudezas, Nagib aponta o primeiro romance em Pernambuco, autoria do português Bernardino de Castro. “Nossa Senhora dos Guararapes” tem como cenário Olinda e Recife. A trama se dá entre Eduardo e Efigênia que se amam, “mas as tradições da época impedem a união (...)”. O português, temendo a Revolução Praieira, fugiu para Angola. A primeira mulher a escrever foi a potiguar e feminista Nísia Floresta. Sob influência da Confederação do Equador, publica “Direito das mulheres e injustiça dos homens”. Abreu e Lima, autor de diversas obras sobre história, “repudiava ferreamente o comunismo (...)”. “Seu socialismo se fundava no amor de Deus(...). Conforme Nelson Saldanha citado por Nagib Jorge Neto. Importante no livro é a referência a Franklin Távora, precursor do regionalismo com “O cabeleira”. Nagib o contrapõe a José de Alencar, “que fica a léguas do drama humano e social (...)”. É curioso saber, por outra, que a Academia Pernambucana de Letras surgiu da transição do parnasianismo ao modernismo. Iniciativa de Carneiro Vilela, autor de “A emparedada da Rua Nova”. Edwiges de Sá Pereira, poeta e líder feminista, dela fez parte. 

No final, Nagib enumera a nova geração de escritores. Urariano Mota, com “Os corações futuristas” e “Soledad no Recife”; Cida Pedrosa, com “As filhas de Lilith”; e Luciano Siqueira, com o livro de crônicas “O Vermelho e o Verde Amarelo”. 

Nota do autor: Escrito em 18 de março de 2010



Fonte: www.vermelho.org.br

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