O encontro de chefes de Estado do G20 começou na manhã desta quinta (3), com sua pauta original ofuscada pela crise grega. Se a agenda da cúpula já estava tomada pela profunda crise na zona do euro, agora a reunião das principais economias do mundo pode centrar-se na polêmica causada pela decisão da Grécia de realizar um referendo sobre o pacote de resgate.
A adoção de medidas para reativar o crescimento mundial e a ajuda dos emergentes para os países da zona do euro seriam os principais pontos de discussão no encontro, que se estende até a sexta (4), em Cannes, na França. Mas as enormes pressões, chantagens e ameaças da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional sobre a Grécia poderão dominar os debates.
Após uma reunião pré-G20 com o primeiro-ministro grego, George Papandreou, líderes europeus deixaram claro que ou a Grécia aceita na íntegra as condições do pacote de reestruturação de sua dívida ou terá de deixar a zona do euro.
"A Grécia deve decidir se quer ou não continuar na zona do euro", afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel, praticamente dando um ultimato para os gregos aprovarem o acordo. Segundo ela, o objetivo é manter a Grécia na zona do euro, "mas nosso primeiro dever é um euro estável".
Merkel e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, conclamaram a oposição grega a ter o mesmo "senso de responsabilidade" de portugueses e irlandeses – mesmo que isso signifique sacrificar a população. É uma mensagem clara do caráter imperialista das potências que mandam na União Europeia e de que nesse bloco soberania nacional é letra morta.
Ainda surpreendidos com a proposta da consulta popular grega, ambos foram enfáticos ao dizer que a Grécia não receberá mais nenhum centavo enquanto não aprovar o acordo. Para o presidente francês, "a Europa não pode ficar na incerteza e quer uma resposta o mais cedo possível".
Em declarações à televisão grega em Cannes, Papandreou garantiu rapidez aos líderes europeus e mencionou o dia 4 de dezembro como possível data para a realização da consulta popular. Depois das pressões da União Europeia, vários ministros do governo grego agora dizem que o referendo não é mais necessário. O governo social-democrata de Papandreu, que tem aplicado obedientemente as imposições da União Europeia e do FMI, está por um fio.
Em entrevista ao chegar em Cannes, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, também
demonstrou preocupação e pediu à Europa que tome decisões importantes, de modo a alcançar uma "solução abrangente" para a crise. Ele afirmou que alguns passos já foram dados, "mas mais é necessário".
"Nós teremos de definir mais os detalhes sobre como o plano será total e decisivamente implementado", disse Obama. As declarações de Obama mostram que a cúpula do G20 inicia-se em meio a contradições de natureza interimperialista.
A atual situação implica diversos riscos também para os Estados Unidos e para Obama. Se a Europa não puder conter a crise na Grécia, ela pode se espalhar pelo continente e atingir os EUA. Com o desemprego em 9,1%, qualquer acontecimento econômico adverso na Europa pode paralisar a recuperação dos EUA, afetando as perspectivas de reeleição de Obama.
Na quinta-feira passada, a Europa definiu um pacote de medidas, em Bruxelas, para tentar resolver uma crise da dívida, que dura já dois anos, e para tentar evitar uma recessão da economia mundial.
Uma das decisões foi ampliar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, dos atuais € 440 bilhões para € 1 trilhão, para evitar o contágio de outros países da zona do euro, como Itália e Espanha. Apesar de não estar muito definido o funcionamento deste fundo de resgate, os europeus esperam que países emergentes como Brasil e China possam contribuir.
Brics
Nesse sentido, a presidente brasileira Dilma Rousseff participou, nesta quinta, de uma reunião com líderes do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Cannes. O objetivo era acertar uma posição comum do bloco no encontro.
Entre os assuntos em discussão estava exatamente a participação do Brics no socorro aos países europeus em dificuldades. Uma nota no blog oficial de Dilma afirma que ela "compartilhou a posição do Brasil em defender uma solução para a crise financeira internacional com crescimento e manutenção de empregos".
Dilma está em Cannes desde terça. Ontem, em seu primeiro dia de compromissos oficiais, ela se reuniu com o presidente da China, Hu Jintao, com a primeira-ministra da Austrália, Julia Gillard, e com o diretor-geral da OIT, Juan Somavía.
A abertura oficial da cúpula do G20 estava prevista para as 12h30 desta quinta (9h30 em Brasília), quando o presidente francês, Nicolas Sarkozy, daria as boas-vindas aos chefes das delegações internacionais no Palais des Festivals.
As ruas ao redor do Palácio dos Festivais já estão bloqueadas, num forte esquema de segurança para receber as lideranças. As manifestações contra os efeitos da crise econômica, desta vez, estão concentradas em Nice, a cerca de 20 Km da realização do evento, já que foram impedidas em Cannes.
O G20 foi estabelecido em 1999, como consequência das crises de balanço de pagamentos ocorridas ao longo da década de 1990. Desde 2008, participam das reuniões os presidentes, primeiros-ministros e ministros da Fazenda, além dos dirigentes dos bancos centrais de cada país. O comando rotativo do grupo em 2011 está com a França.
Da Redação,
com agências
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