sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Tânia Bacelar: “Crise atual é muito mais do que financeira”


“Este é o passo inicial da nossa pretensão de constituir um fórum permanente de discussão em torno de questões cruciais do desenvolvimento de Pernambuco e questões concernentes a partir de uma visão nacional com a intenção de oferecer a militantes, estudiosos, parlamentares e a todos aqueles que de alguma forma tem interesse em compreender o que se passa no País e em nosso Estado neste momento”, explicou o deputado Luciano Siqueira (PCdoB) ao iniciar o debate aberto promovido por seu Gabinete e pela representação estadual da Fundação Maurício Grabois, de São Paulo, na manhã de segunda-feira (29), no auditório da Assembleia Legislativa.

O encontro teve como palestrante a professora e economista Tânia Bacelar que tratou do tema O novo ciclo de desenvolvimento de Pernambuco e o desafio da sustentabilidade. “Uma abordagem fundamentada, rigorosa, conscienciosa, que possibilite um debate rico que incorpore percepções dos fenômenos em curso”, completou o parlamentar.

Tânia Bacelar explicou que a atual crise financeira mundial teve origem nos anos 1970, com a fuga do capital da produção para a área financeira. Ela traçou um paralelo entre a riqueza gerada pelas transações financeiras e as geradas pelo setor produtivo. Segundo a economista, os ativos financeiros somam hoje US$ 860 trilhões, enquanto o PIB (Produto Interno bruto) gerado pelo setor produtivo mundial é de USS 60 trilhões.

“A crise atual é muito mais do que financeira”, disse Tânia, ao chamar a atenção para o surgimento no mundo de novos paradigmas, que se colocam para além da crise financeira. Ela citou como exemplo, o novo conceito de desenvolvimento, que há décadas se pautava pelo crescimento econômico e industrial sem levar em conta os custos socioambientais do desenvolvimento, e a necessidade de um novo padrão energético, que se apoie na utilização de recursos renováveis, como água, vento e biomassa, e não só no petróleo.

“O debate do conceito de desenvolvimento não dá para sair da nossa mente. No caso de Suape, por exemplo, a pergunta é: Dá para fazer diferente? Dá para combinar melhor o respeito à natureza com o crescimento econômico? Dá para combinar melhor a questão social coma dimensão econômica? Essa é a reponsabilidade que está sobre nós. Esse é o nosso tema cotidiano que está aí cada vez mais forte, é um desafio da sociedade e não podemos desistir”, afirmou.

Entre os novos paradigmas que estão surgindo na sociedade, a economista citou ainda a inovação tecnológica; o novo padrão de consumo, marcado pela crise do “american way life” (estilo de vida americano); novo equilíbrio geopolítico construído a partir da crise na hegemonia dos EUA; e a quebra da onda liberal.

Educação e inovação
Segundo Tânia Bacelar, a mudança fundamental que vai marcar o século 21 será a transformação da sociedade em uma sociedade do conhecimento, com destaque para a educação e a capacidade de inovar.“Acho que, no Brasil, temos uma grande oportunidade na educação que é o recurso do pré-sal, que vai gerar uma receita pública adicional importante. Acho que a sociedade brasileira cada vez mais está cobrando isso. E nós temos essa chance na hora em que a sociedade está melhorando a consciência sobre o papel estratégico que a educação precisa jogar no Brasil e temos do outro lado uma fonte potencial de financiamento. Então, é um momento muito especial que vamos viver nos próximos anos”, destacou a economista.“Com relação à inovação, creio que esse é um grande desafio para o Brasil. Quando avaliamos a trajetória da industrialização brasileira observamos que conseguimos ser a oitava economia do mundo, mas importando tecnologia. A natureza do nosso processo de industrialização não foi estimulante da inovação e isso acomodou o meio empresarial. Agora, queremos dar o passo seguinte que é continuar com o processo de inovação e industrialização, onde no mundo o padrão mudou e tem o requisito básico da necessidade permanente de inovar”.

Ela discorreu ainda sobre os desafios do Brasil no início do século XXI, o novo ciclo de desenvolvimento de Pernambuco e a reinserção do Estado no contexto nacional. “Os investimentos sinalizam para um novo ciclo puxado pela indústria e para transformações na estrutura produtiva, a partir do surgimento de novas atividades - petróleo, construção naval, indústria automobilística, siderúrgica, farmacoquímica-, e da redefinição de segmentos tradicionais, como produtos alimentares e bebidas, têxtil, metal-mecânica e material elétrico”, ressaltou.

Ela destacou ainda a ampliação dos investimentos na infraestrutura viária, hídrica e urbana, bem com o aumento dos investimentos na formação e qualificação profissional, o empreendedorismo e a eficiência na gestão pública como elementos potencializadoras do desenvolvimento do Estado. Segundo Tânia, a Região Metropolitana do Recife abrigará dois terços dos novos empreendimentos produtivos.

Participaram do debate representantes de diversos segmentos sociais do Estado, entre eles, a deputada federal Luciana Santos (PCdoB); o deputado federal e ex-prefeito do recife, João Paulo (PT); o deputado estadual Diogo Moraes (PSB), o presidente da representação estadual da Fundação Maurício Grabois, Paulo Dantas, secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia da Prefeitura do Recife, José Bertotti, representantes do Sebrae-PE, Fetape e Pastoral da Terra.

Fonte: Site de Luciano Siqueira

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