O evento será de 6 a 11 de setembro, no Campus da UFPE, no Recife.
No ano de 2011 a ALAS completa 60 anos de existência na renovação contínua de seus congressos. Nesta trajetória, constituiu-se numa referência importante para o pensamento crítico latino-americano e continua a sê-lo no momento presente. Neste século XXI, os desafios da América Latina e do Caribe na organização de um planeta mais equitativo, justo e plural vêm se ampliando, colocando-nos novos desafios.
No ano de 2011 a ALAS completa 60 anos de existência na renovação contínua de seus congressos. Nesta trajetória, constituiu-se numa referência importante para o pensamento crítico latino-americano e continua a sê-lo no momento presente. Neste século XXI, os desafios da América Latina e do Caribe na organização de um planeta mais equitativo, justo e plural vêm se ampliando, colocando-nos novos desafios.
A crise global vem obrigando a América Latina a renovar sua compreensão sobre si mesma e sobre o mundo, sobretudo quando ela passa a ser vista pelas forças progressistas, em nível mundial, como um lócus renovador, por excelência, dos movimentos sociais, políticos, culturais e intelectuais. Também, a América Latina é fonte de recursos naturais e ambientais fundamentais para a sobrevivência da espécie humana, o que é decisivo em uma conjuntura mundial de escassez de alimentos e fontes energéticas. Nesta mesma direção, é de se ressaltar que o português e o espanhol constituem em conjunto as bases de uma importante comunidade lingüística que ancora parte significativa da produção cultural mundial.
A percepção do significado da América Latina nas atuais reconfigurações do mapa mundial é tarefa que urge e chama à reflexão esta comunidade de sociólogos ao lhes propor revisões de seus paradigmas, reconhecidos, enfim, como tendo se pautado em binarismos que pouco ajudam à compreensão dos processos híbridos, das liminaridades, das tensões, das fronteiras, das criações que têm seu lugar num continente que não se explica unicamente por meio dos manuais secularmente consagrados. A nós é exigido o esforço hercúleo de legitimar narrativas ainda inéditas sobre nós mesmos.
Ora, ainda há muito que se fazer para nos percebermos como “nós”, latinos, e favorecer a ampliação do leque de atores e pesquisadores que interrogam a América Latina. Há desafios importantes para se avançar numa práxis teórica renovadora que articule o pensamento e a ação, que coordene as instituições sociais, políticas, culturais, artísticas, econômicas e jurídicas com vistas à produção de um pensamento democrático e plural contemplando o local, o nacional, o pós-nacional, transnacional e suas metamorfoses. Entre as áreas a serem incorporadas ao pensamento latino-americano há de se ressaltar os estudos sobre as regiões da América Latina que permanecem ainda não suficientemente discutidas, a exemplo do norte e o nordeste da América do Sul, entre outras. Essas regiões são palco de profundas transformações sócio-econômicas, culturais e ambientais que têm impacto sobre o conjunto da América Latina, e, igualmente, de importantes mobilizações políticas e intelectuais voltadas para questionar em profundidade as raízes das desigualdades e injustiças sociais em planos diversos: étnico, econômico, de gênero, geracional e religioso. Há de se interrogar e contrapor, pois, com certa urgência, os vários campos de saberes e experiências liberadoras que ocorrem dentro e fora dessas regiões.
Nesta linha de reflexão, a escolha da cidade do Recife para a realização do XXVIII Congresso ALAS “Fronteiras Abertas da América Latina”, em 2011, tem uma importância simbólica e estratégica particular. Recife é uma importante metrópole histórica e econômica cujas origens remontam aos primeiros séculos da colonização ibérica, mantendo-se, até hoje, como importante centro cultural e intelectual. Entre os principais intelectuais e homens de ação que aqui desenvolveram parte significativa de suas obras estão Abreu e Lima, Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Josué de Castro, Paulo Freire, Celso Furtado, Dom Helder Câmara e Miguel Arraes. Do ponto de vista geopolítico, a localização da cidade do Recife possibilita-nos articular as diversas cidades do norte e nordeste brasileiro, desde Manaus até Salvador, que guardam as memórias da colonização e da luta anticolonial. As lutas e mobilizações que ocorrem nessas áreas não se restringem a suas delimitações geográficas, mas se conectam com outras regiões do continente latinoamericano. A questão amazônica, para tomar o exemplo de uma das grandes regiões latino-americanas, não é apenas brasileira, do mesmo modo que a questão ambiental do nordeste não toca apenas os estados desta região. As desigualdades sociais, os desequilíbrios ecológicos, a fome e a miséria assim como a presença dos movimentos sociais que combatem este estado de precariedade, refletem situações mais amplas que concernem cada país e cada região da América Latina e do Caribe. Nesse sentido, a idéia de FRONTEIRAS ABERTAS como palavra-chave da ALAS 2011 justifica-se pela importância de se colocar como pauta de pesquisa e debate público atores, práticas, instituições e saberes que evidenciam os limites dos nossos modelos analíticos.
O propósito do ALAS 2011 é de consolidar os esforços de articulações realizados em Buenos Aires, Guadalajara, Porto Alegre, Arequipa, Antígua, São Paulo e demais encontros anteriores, ampliando a construção do pensamento crítico latino-americano. Neste sentido, há que se favorecer parcerias e cooperações entre países e regiões nas quais vêm se desenvolvendo novos saberes e práticas implicados com a construção democrática numa gramática moral cujo “bem viver”, de diversos, se traduz no alcance de metas coletivas em torno da dignidade humana.
O contexto de grandes mudanças geradas pela crise global e a organização de experiências marcadas pela reação anti-neoliberal contribuem para a reflexão sobre os modelos de desenvolvimento em termos culturais, políticos, econômicos da América Latina e sobre os modos de cooperação igualitária com outros blocos continentais, no diálogo Sul-Sul, atento a tais questões, o XXVIII Congresso ALAS “Fronteiras Abertas da América Latina” propõe cinco temas centrais, a saber:
• Memórias, entre o passado e o futuro.
• Políticas públicas e identidades, entre as singularidades e as universalidades.
• Modernidades alternativas: política, cultura e sociedade na América Latina, África e Ásia.
• Disciplinaridades dialógicas, entre o humanismo reflexivo e a variedade epistemológica e técnica.
• Amazônia e ecossistemas, entre a depredação econômica e a sustentabilidade planetária.
1. Memórias, entre o passado e o futuro
A América Latina tem uma importante tradição de autores e atores que se dedicaram a construção de um pensamento voltado para a compreensão de nossos dilemas fundamentais. A releitura crítica desta tradição intelectual e das lutas sociais constituem um aspecto a ser considerado na análise dos novos cenários culturais, políticos, econômicos que desafiam a inteligência latino-americana no presente com vistas à construção de um futuro.
Cabe debater as tensões intelectuais fundadoras das ciências sociais para formular teorias, metodologias, epistemologias e éticas, ao mesmo tempo em que encoraje a incorporação de novos conteúdos e novas práxis sociais na produção do conhecimento.
2. Políticas públicas e identidades, entre as singularidades e as universalidades.
Desde a segunda metade do século XX, a América Latina constituiu o palco de grandes lutas democráticas, algumas sendo conduzidas dentro dos cânones institucionais e jurídicos, outras se insurgindo contra tais cânones. Essas lutas foram e são vividas pelos camponeses, povos indígenas, quilombolas, mulheres, crianças e idosos excluídos, trabalhadores sem-terra, sem-teto e sem direitos à participação nos mecanismos de distribuição dos bens de cidadania. Ricas trajetórias nos impõem a tarefa de analisar os avanços e as resistências nas lutas dos diversos povos, movimentos sociais e culturais em diferentes áreas como as das economias plurais, as de gênero, etnias e novas religiosidades. Tal conjuntura demanda mudanças no nível do Estado, fazendo emergir e consolidar direitos mediante políticas públicas inovadoras, a serem examinadas. Frente a esse quadro, o XXVIII Congresso ALAS se propõe a impulsionar conhecimentos transversais que contemplem a diversidade de experiências em diferentes planos analíticos.
3. Modernidades alternativas: política, cultura e sociedade na América Latina, África e Ásia.
A pretensão de um universalismo iluminista capaz de colonizar todas as áreas do planeta teve como reação a liberação de forças antiutilitaristas, descolonizadoras e pós-coloniais que ainda lutam pela releitura de tradições e por modalidades próprias de inserção no mundo globalizado, como sujeitos. Faz-se necessário cultivar um diálogo visando compartilhar as universalidades possíveis geradas por forças intelectuais e políticas criativas que se expandem na América Latina, África e Ásia, expressão das novas fronteiras geopolíticas. Os esforços de democratização implicam a valorização de modo mais transparente e eqüitativo das diversidades no interior das universalidades. Há que se construir, por conseguinte, um diálogo de novo tipo entre os diversos atores transnacionais, ampliando a compreensão coletiva sobre a América Latina e sobre o diálogo Sul-Sul.
4. Disciplinaridades dialógicas, entre o humanismo reflexivo e a variedade epistemológica e técnica
Diante do cenário contemporâneo de rápidas mudanças, coloca-se a urgência de repensar as instituições acadêmicas e os campos de saberes, assim como as articulações entre saberes locais e saberes universais, e interrogar sobre a delimitação de fronteiras entre saberes e entre pesquisa, ensino e extensão.
No plano epistemológico, o trabalho de organização de novos conhecimentos deve permitir articular saberes reflexivos e informações técnicas e pragmáticas do mesmo modo que deve favorecer novas modalidades discursivas entre ciência e arte, entre ciência e tecnologia, entre ciência e movimentos sociais, entre ciência, direitos humanos e bioética. No plano científico e tecnológico, pensar a instauração de direitos sociais universais e participação na criação de conhecimentos, motivações éticas e universalidades na apropriação pública e social do saber.
Se as singularidades não têm que ser reificadas em assimetrias e as diferenças não equivalem a desigualdades imutáveis, nossos estudos até então erguidos sobre as virtudes da civilização ocidental estão desafiados a dar conta, hoje, da civilização planetária, que não se pretende homogênea, mas se deseja plural e justa, com a verbalização das significações de mundo também daqueles historicamente silenciados. A transdisciplinaridade e as redefinições do colonial x moderno longe de projetar essencialismos e fundamentalismos espera inaugurar releituras de pensadores clássicos e contemporâneos capazes de configurar uma intervenção epistêmica e política a fundar uma intersubjetividade mais ampliada entre pessoas, povos, línguas, experiências e projetos de vida.
5. Amazônia e ecossistemas, entre a depredação econômica e a sustentabilidade planetária
A realização do XXVIII Congresso da ALAS na cidade do Recife é um momento importante para se incorporar como problemática sociológica o “patrimônio dialógico” que representou o Fórum Social Mundial, em Belém (2009), no que diz respeito à luta contra a depredação do meio ambiente, aos conflitos decorrentes da ameaça aos territórios e às culturas de povos indígenas e camponeses e ao imbricamento entre a depredação ambiental e os conflitos sociais. Essa é uma base para uma refletir sobre conflitos, contradições, proposições e articulação de atores e instituições voltadas para a busca da sustentabilidade social e ambiental na América Latina e no Caribe.
Fonte: http://www.alas2011recife.com/
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