Em cerimônia marcada por homenagens a filmes clássicos e musicais, o Oscar deixou bem claro que espera a volta do cinema às suas origens. Na edição 2012, o prêmio consagrou longas que homenageiam o cinema do começo do século passado, e deixou transparecer tédio com a falta de boas ideias que assola os filmes americanos nos últimos anos.
"O Artista" é o melhor filme do ano / Foto: Divulgação
O Artista, filme mudo e em preto e branco, foi o grande vencedor da cerimônia , levando estatuetas em cinco das principais categorias, incluindo melhor filme, melhor diretor (Michel Hazanavicius) e melhor ator (Jean Dujardin).
A produção, franco-belga, foi o primeiro longa estrangeiro a levar o grande prêmio. Também recebeu estatuetas por melhor trilha sonora original e melhor figurino. A última vez que um filme mudo venceu um Oscar foi em 1929.
Com estética e recursos de filmes do começo do século passado, O Artista relembra a era de ouro do cinema mudo e a sua decadência com a chegada dos filmes falados. De maneira semelhante, A Invenção de Hugo Cabret - de Martin Scorsese -, também premiado com cinco estatuetas, homenageia as origens do cinema e o cineasta francês Georges Méliès, de Viagem à Lua (1902), completamente esquecido com o fracasso comercial provocado pela Primeira Guerra Mundial. O filme recebeu estatuetas de melhor fotografia, direção de arte, edição de som, mixagem e efeitos especiais.
Guardadas as devidas diferenças, é possível dizer que o cinema hollywoodiano se vê nos personagens de Méliès (vivido por Ben Kingsley) e de George Valentin (Jean Dujardin, em O Artista).
O cinema norte-americano está em crise, prova disso é o uso abusivo de tecnologia de ponta e de filmes em 3D como forma de tentar alavancar a decrescente bilheteria. O ano de 2011 teve a pior arrecadação desde 1995: foram apenas 10,2 bilhões de dólares. Hollywood pede socorro. E foi exatamente esta a sensação transmitida pela 84ª edição do Oscar, exibida na noite deste domingo.
Os veteranos e o previsível
Na cerimônia, Meryl Streep recebeu a estatueta de melhor atriz pela atuação como a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher no filme A Dama de Ferro, sua 17ª indicação e terceira vitória no Oscar.
O ator canadense Christopher Plummer tornou-se a pessoa mais velha a vencer um Oscar, aos 82 anos, recebendo a estatueta na categoria de melhor ator coadjuvante. Ele era o favorito por sua interpretação de um pai que assume ser gay após a morte da esposa, no filme Toda Forma de Amor.
Também previsível foi a escolha de Octavia Spencer (de Vidas Cruzadas), como melhor atriz coadjuvante. Ela e Plummer já tinham ganhado todos os prêmios disponíveis em suas categorias ao longo da temporada.
Outro veterano a levar uma estatueta foi Woody Allen, pela autoria do melhor roteiro original de Meia-Noite em Paris. Já o prêmio de melhor roteiro adaptado ficou com Alexander Payne, de Os Descendentes.
A eleição do iraniano A Separação como melhor filme estrangeiro também não surpreendeu. Já o prêmio de melhor animação ficou com Rango.
Uma das poucas surpresas foi Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, que ganhou o prêmio de Melhor Montagem, o segundo consecutivo para a parceria entre os montadores Angus Wall e Kirk Baxter com o cineasta David Fincher, que venceram no ano passado por A Rede Social.
A aparente "globalização" da premiação, porém, não foi muito animadora para o Brasil, que estava indicado na categoria de Melhor Canção Original por Real in Rio, escrita por Carlinhos Brown e Sergio Mendes, da animação Rio, mas perdeu para Man or Muppet, de Os Muppets.
Saudosismo e crise
No discurso de Morgan Freeman, que deu o pontapé inicial a esta edição, já dava para notar o tom que se seguiria durante toda a premiação. "Desde 1929, o cinema continua emocionando as pessoas. Seja em película ou animação, mudo ou falado, em cores ou em preto e branco, todos eles emocionam com a sua mágica", disse o ator, vencedor do Oscar de ator coadjuvante por Menina de Ouro, em 2005.
O ritmo pessimista continuou com o apresentador oficial deste ano (e de muitos outros), o ator Billy Crystal, que logo em suas primeiras frases chamou o tradicional teatro Kodak de "teatro da bancarrota". O local é a casa oficial do Oscar há mais de dez anos, mas deve perder a Kodak como patrocinadora em breve - daí o ator evitar mencionar o nome da empresa.
E Crystal não parou por aí. "Nada nos faz esquecer mais da crise econômica do que ver um monte de milionários entregando estátuas de ouro uns aos outros", disparou o apresentador, defendendo que a crise criativa enfrentada pelo cinema é na verdade reflexo de uma recessão maior, de ordem econômica.
O gosto pelo comercial também ficou expresso em outro comentário feito por Crystal. "A saga Harry Potter acabou no ano passado. É uma pena. Os filmes deles renderam 7 bilhões de dólares. Eu gosto disso", afirmou o apresentador. No ano passado, o último filme da franquia liderou com folga a lista dos longas mais lucrativos, com receita de 1,3 bilhão de dólares - 300 milhões a mais que seus sucessores na preferência do público, Transformers - O Lado Oculto da Lua e Piratas do Caribe.
Confira a lista completa dos vencedores:
Melhor Filme
“O Artista’
Melhor Direção
“O Artista” – Michel Hazanavicius
Melhor Ator
Jean Dujardin – “O Artista”
Melhor Atriz
Meryl Streep – “A Dama de Ferro”
Melhor Ator Coadjuvante
Christopher Plummer – “Toda Forma de Amor”
Melhor Atriz Coadjuvante
Octavia Spencer – “Histórias Cruzadas”
Melhor Filme Estrangeiro
“A Separação”
Melhor Filme de Animação
“Rango”
Melhor Roteiro Original
“Meia-Noite em Paris” – Woody Allen
Melhor Roteiro Adaptado
“Os Descendentes” – Alexander Payne, Nat Faxon, e Jim Rash
Melhor Fotografia
“A Invenção de Hugo Cabret”
Melhor Direção de Arte
“A Invenção de Hugo Cabret”
Melhor Montagem
“Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres”
Efeitos Visuais
“A Invenção de Hugo Cabret”
Melhor Edição de Som
“A Invenção de Hugo Cabret”
Melhor Mixagem de Som
“A Invenção de Hugo Cabret”
Melhor Figurino
“O Artista”
Melhor Maquiagem
“A Dama de Ferro”
Melhor Trilha Sonora
“O Artista” – Ludovic Bource
Melhor Canção
“Man or Muppet” – “Os Muppets”
Melhor Documentário
“Undefetead”
Melhor Documentário de Curta-metragem
“Saving Face”
Melhor Curta-metragem
“The Shore”
Melhor Curta Animado
“The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore”
Fonte: Portal Vermelho
Nenhum comentário:
Postar um comentário