Agora sentada, a olhava com clareza, como se precisasse ficar sozinha para entender o mundo. Não estava sozinha, mas era como se o tivesse, sem nenhum rosto familiar sentia-se a vontade para penetrar naquele mundo só dela. Agora confortável, acomodada em seu lugar permanecia séria, a olhar. Ela, que estava sobre o seu colo sorria, com a cor leve que lembrava a salmão. Era aquela mesma flor que outrora recusara. Antes não havia sentido, nem poderia encontra-lo se o tivesse, andava preocupada com outras coisas naquele tempo e a rosa era mais uma fora da roseira que em poucos dias morreria. No balanço do vagão, tentava entender porque nunca entendera. Nunca a sentiu assim, queria mesmo é abraçar a flor, amar a flor, e a flor, apenas sorria. Esta, que era fruto daquele ultimo momento de vida, daquela vida. Nunca murcharia se isto dependesse da moça. Parecia exalar tanta vida, mesmo longe da terra e da água. Só com luz sobreviveria. A luz da menina. Estranhamente agora que começava a compreender o começo este era o fim. O trem partira com a lembrança desse tempo e a flor. Pensar parecia em vão agora, não traria nada de volta, só remorso por não ter gozado do momento em vez de tentar entende-lo sempre. Não podia admitir uma vida tão simples, era mais e num ato forçado a complicava. Não é simples. Mas ao tentar enxergar emprestava outros olhos, que por sua vez eram míopes. Uma pétala da flor caia. Ao longe tudo se ofuscava e assim ela aprendeu erroneamente a amar. Antes inventasse um por que e nele acreditasse, mas fingir que não existia foi fatal. Sentiu a brisa soprar lá fora, dentro do trem sem janelas. Agora a moça descobrira, tinha olhos próprios, tão novos e tímidos, corajosos. De que adiantavam, partia. Pensar cansava, fechou os olhos e dormiu. A rosa desmanchou em suas mãos e ela se sentiu bem por não saber.
(Nina Zambiassi)
(Nina Zambiassi)
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