Rapidamente, os tecidos feitos de palha e linho se avolumam no galpão mantido em Santos, no litoral de São Paulo, onde cores vibrantes contrastam com o cinza das paredes. Em meio ao som das máquinas de costura, uma enorme e incrível quantidade de tapetes e tapeçarias ganha forma. Entre mesas, bancadas, cestos e armários. Dali, através de uma cooperativa fundada recentemente, cerca de 30 mulheres conquistarão o mundo através de algo essencial: sua criatividade e arte.
Por Jandira Feghali*
A chamada indústria criativa engloba atividades de produção nas várias linguagens da arte e vem dando mostras robustas de crescimento. As estatísticas deste ano da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) mostram essa relevância: o setor movimenta U$ 1,8 trilhão no mundo e corresponde a 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) da Europa, sendo 2,5% no Brasil e, de acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, pouco mais de 4% no Rio de Janeiro.
Contudo, apesar de despontar como uma crescente fatia da produção econômica e cultural do país, a economia criativa do Design e da Moda ainda enfrenta gargalos por políticas públicas consistentes. E isso se reflete na dificuldade de se manter viva essa arte, que é aperfeiçoada nas universidades, através do estudo sobre sua criação e comercialização industrial, ou mantida ao longo dos séculos, na produção tipicamente manufatureira.
Veja um exemplo desse gradual esmagamento. Um estudo encomendado este ano pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) para o Center For Global Trade and Investments da EESP/FGV mostra que, em 2011, as importações brasileiras de origem chinesa no setor têxtil e de confecção somaram US$ 3 bilhões, contra US$ 91 milhões em 2001 – 32 vezes mais. Em 2012, as importações somaram US$ 3,3 bilhões.
Contudo, para realçar a produção brasileira é preciso olhar atento a diversos fatores, como preservação de mercado interno, desconcentração de comercialização, identidade nacional e valorização da mão de obra – além do combate ao trabalho escravo, que persiste em ser fomentado contra todos os tratados internacionais de Trabalho e Direitos Humanos. Questões tributárias, formação de trabalhadores e logística de entrega também afligem o setor.
E ainda há falta de crédito para pequenos produtores, já que bancos públicos e privados se distanciam na hora de garantir linhas de financiamento, fora que não é bem estabelecido o legado deixado aos artesãos e bordadeiras quando da integração com a alta costura e com os grandes eventos.
Mas na última semana demos um importante passo dentro da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, que presido, na direção de enxergar caminhos para transpor muitos desses obstáculos.
No lançamento do ciclo de encontros “Expresso 168”, com participação da Secretaria da Economia Criativa do Ministério da Cultura, do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio, da Frente Parlamentar em defesa da confecção e indústria têxtil, além de representantes de entidades ligados à economia criativa e deputados, decidimos somar esforços e criar um grupo de trabalho para apresentar soluções nos próximos 15 dias.
O acerto é que o Executivo acolha as propostas e as transforme em realidade, através de políticas públicas reais para essa indústria. Tenho plena certeza que as boas ideias do setor darão vitória a todos: nossa economia, a cultura, o país e as “costureiras de Santos”.
*Deputada federal pelo PCdoB do Rio de Janeiro e presidenta da Comissão de Cultura da Câmara
Artigo publicado originalmente no jornal Brasil Econômico
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