"Nos últimos 20 anos o Brasil é o país que mais avançou no combate à fome". Com essa avaliação, Hélder Multeia resume os avanços conquistados ao longo dos dois anos e meio em que esteve a frente da representação da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) no país. A partir do próximo dia 18, o cargo será ocupado por Alan Bojanic, que já liderou as atividades da organização no Chile e no escritório regional para América Latina e Caribe.
Bruno Spada/MDS
Dados da organização não governamental Action Aid salientam que em seis anos a má nutrição infantil caiu 73% no Brasil e a mortalidade infantil, 45%
Multeia afirmou, com exclusividade à Agência Brasil, que o novo representante da organização em território brasileiro não encontrará dificuldades. "O Brasil, como parceiro para os objetivos da FAO, é um país que está na linha de frente. É um país que já cumpriu as Meta do Milênio, onde a classe média cresce a olhos vistos e que tem políticas públicas importantes. Esse é o grande diferencial do Brasil", disse.
Quando assumiu o cargo, em agosto de 2010, o moçambicano Hélder Multeia tinha desafios claros. Entre eles, fortalecer, por meio do diálogo com setores do governo e de outros segmentos, medidas de apoio à pequena agricultura, à segurança alimentar e à preservação ambiental. "Houve grandes avanços nestas áreas porque o Brasil avançou muito com programas como o Fome Zero, que ficou ainda mais amplo com o Brasil sem Miséria", destacou.
Muitas das políticas e programas brasileiros foram reproduzidos em territórios onde a fome é um problema mais grave, como na África. Esta foi uma das principais atribuições de Multeia na FAO no Brasil. "Iniciamos programas de parcerias com outros blocos tanto na América Latina como na África. Reproduzimos programas como o de aquisição de alimentos e de alimentação escolar, que é um sucesso", lembrou.
A parceria também possibilitou a criação do programa Mais Alimentos África, nos mesmos moldes do programa criado no Brasil para apoiar a pequena agricultura com linhas de investimento para a modernização da propriedade rural. "Para os países africanos, o Brasil tem um cardápio de possibilidades de desenvolvimento com todas estas políticas de alimento, de apoio a pequena agricultura e do programa de cisternas", disse.
A partir desta segunda-feira (18), Multeia assume o escritório da organização criado recentemente em Lisboa, Portugal. Com um currículo que reúne passagens por cargos como o de ministro da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, de vice-ministro de Pesca de Moçambique e de chefe do Departamento Técnico de Avicultura, em Maputo, Multeia sabe que terá um novo desafio a partir de agora, com atribuições diferentes das que assumiu no Brasil e na representação da Nigéria, anos antes
Na Europa, o escritório da FAO tem uma natureza diferenciada por não ter o status de representação. "Temos um escritório de ligação, de diálogo e de partilha. Vamos desenvolver um trabalho conjunto na CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]", explicou. Segundo ele, os países que integram a CPLP vão criar uma plataforma de cooperação para atuarem, conjuntamente, no combate à fome nessas regiões.
Sobre a nova atividade em território português e as dificuldades que pode enfrentar, principalmente por se tratar de um dos países mais afetados pela crise econômica mundial, Multeia disse que só definirá outras atividades a partir das conversas que já estão sendo agendadas com representantes do governo e do setor produtivo de Portugal.
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