quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Staub morde a maçã


A gradiente, empresa brasileira fundada nos anos 1960 que já foi forte nas vendas de eletroeletrônicos, usou uma estratégia controversa para retornar ao mercado em 2012. Após estudos realizados pela equipe responsável pela sua reinserção nas prateleiras mostrarem que a lembrança de seu nome continuava viva na cabeça dos brasileiros, sua aposta no aquecido mercado de smartphones veio atrelada ao conceito de uma gigante concorrente, a norte americana Apple. A junção de internet com telefone deu origem ao Gradiente iPhone, marca registrada pela brasileira no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) em 2008.

 A vitória trouxe o empresário de volta ao noticiário sem que o assunto fosse a falência da companhia. Ilustração: Regina Assis
A vitória trouxe o empresário de volta ao noticiário sem que o assunto fosse a falência da companhia. Ilustração: Regina Assis

O fato não impede que a Apple trabalhe com a marca iPhone no Brasil, mas permite que a Gradiente entre com um processo para reivindicar seu direito de exclusividade. A fabricante brasileira ainda não informou quais serão seus próximos passos, mas há muito tempo ela não tinha presença tão marcante na mídia. A companhia conquistou manchetes no Brasil e espaço no noticiário internacional.
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Foram as primeiras reportagens em muitos anos sem foco na delicada situação financeira enfrentada desde 2006. Problemas causados pelo aumento do endividamento após a compra da Philco em 2005, num momento de investida agressiva de multinacionais no mercado brasileiro, entre outros motivos, fizeram as máquinas da Gradiente parar completamente em 2007. A partir daí, a empresa esteve envolvida em um extenso processo de negociação com fornecedores e investidores em busca de uma recuperação, até relançar seus produtos em 2012. Em seu site estão à venda tablets, tevês, aparelhos blu-ray, celulares, além da linha colorida Meu Primeiro Gradiente.
A empresa ainda não tinha usado o seu direito sobre o nome iPhone. Eugênio Staub, fundador da Gradiente e presidente do conselho de administração da Companhia Brasileira de Tecnologia Digital (CBTD), responsável pela marca, disse, no entanto, que esperava ter sido procurado pela Apple para negociar e que está aberto ao diálogo. “Houve, digamos assim, uma falta de respeito com o nosso registro.” A companhia admite a possibilidade de entrar com processo contra a Apple por uso indevido da sua marca no Brasil e pedir -indenização desde setembro de 2008, quando o iPhone foi lançado no País.
O pedido da Apple para registrar a marca iPhone, feito em 2006, foi rejeitado pelo Inpi, e a decisão foi publicada na quarta-feira 13 (leia mais AQUI). Tudo indica que uma negociação será inevitável. Não será a primeira vez que a norte-americana enfrentará esse tipo de embate. Em julho de 2012, a Apple pagou 60 milhões de dólares a uma empresa chinesa para encerrar uma disputa em relação à marca iPad na China que atrapalhava o lançamento do produto no país. A dona do nome iPad na China, Proview Technology, chegou a pedir 2 bilhões de dólares pelo direito. Em 2007, o imbróglio foi com a empresa norte-americana de tecnologia Cisco, detentora inicial da marca iPhone nos Estados Unidos, e um acordo permitiu às duas empresas utilizarem o nome, sem a divulgação de valores envolvidos no acerto.
Não está claro se a intenção da Gradiente é conseguir algum benefício financeiro, apesar de haver uma diferença gritante de desempenho econômico das duas empresas. De um lado temos uma companhia nacional de 150 milhões de reais em busca de recolocação no mercado e, do outro, uma das líderes mundiais do segmento, com valor de mercado de 500 bilhões de dólares, até há pouco a mais valiosa do mundo.
Em vídeo colocado na internet, a Gradiente explica que o pedido de registro foi realizado em 2000, época em que já se vislumbrava o uso conjunto da internet e do telefone celular. A Apple só viria a lançar o seu iPhone em 2007. O processo de autorização do direito sobre a marca, normalmente concluído em dois anos, saiu apenas em 2008 por causa da oposição apresentada pela Telesp Celular em 2002.
Na hora de explicar as diferenças entre um produto e outro, a Gradiente cita que o sistema operacional de seu aparelho é o Android, enquanto o do concorrente é o iOS. O iPhone da Apple tem “mais velocidade, maior definição de tela, além de mais recursos”, informa o vídeo institucional. Já o Gradiente “é um smartphone muito bom, com recursos mais simples, e tem um diferencial que os brasileiros adoram: aceita dois chips”. Fica claro o direcionamento dos produtos a públicos diferentes. Segundo Fernando Belfort, analista da Frost & Sullivan, o aparelho da Gradiente pode ganhar espaço como o primeiro smartphone dos brasileiros. “Ele tem preço -competitivo que pode atrair o consumidor que busca seu primeiro smartphone.”
A Apple tem apenas 0,4% do mercado de smartphones no Brasil, segundo estudo da Kantar Worldpanel ComTech (KWP), o que pode ser explicado pela pouca quantidade de modelos e preços mais elevados (a partir de 1,4 mil reais o modelo sem plano de operadora de celular). De acordo com a mesma pesquisa, o sistema Android, escolhido pela Gradiente, possui 57% do mercado brasileiro. O primeiro modelo do Gradiente iPhone foi batizado de Neo One, é importado da China e está à venda por 599 reais desde dezembro de 2012.
Um acordo de 400 milhões de reais de pagamento a credores privados em 2012 garantiu a volta da Gradiente ao mercado. A empresa passou por uma complexa reestruturação societária colocada em prática ao longo dos últimos dois anos. Uma troca de nomes separou a marca Gradiente da empresa deficitária, que em 2010 passou a se chamar IGB Eletrônica. Os ativos da IGB Eletrônica, por sua vez, foram arrendados pela CBTD, empresa criada em 2011 para retomar os produtos Gradiente. O valor pago pela IGB de aluguel à CBTD será usado para pagar as dívidas da empresa.
A maior parte do capital da CBTD, 60%, pertence ao Fundo de Investimento em Participações (FIP) Enseada, que tem como cotistas a fabricante multinacional de eletrônicos Jabil, a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) e os fundos de pensão Petros, dos funcionários da Petrobras, e Funcef, dos empregados da Caixa Econômica Federal. O FIP injetou 68 milhões de reais. Os outros 40% pertencem à Holding dos Acionistas da Gradiente (HAG) criada para abrigar os acionistas da IGB diante de troca de ações e um pagamento adicional

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/economia/staub-morde-a-maca-2/

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